Maurício Adinolfi Textos



Mangue



Mauricio Adinolfi.

A exposição MANGUE apresenta seis pinturas realizadas em três anos de trabalho. Obedecendo um tempo específico de secagem e sobreposições.

São pinturas pratas monocromáticas, com uma estrutura de metal acoplada, formando um objeto de caráter industrial. Guardam relação com uma série de intervenções que realizei em regiões litorâneas de rio e mar. Reunem um estudo da flora nativa, primitiva dos mangues e serras tropicais e apresentam o resíduo das transformações e destruições devido à ação humana. São pinturas construidas em camadas e velaturas sobre óleo, pigmento prata, resina, laca e verniz.

Uma pintura de paisagem com caráter industrial, um colapso da natureza.

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Três anos me separam das últimas pinturas expostas. Nesse período muita coisa se transformou: o caráter da cor e da tinta sofreram abalos influenciados pelos projetos com pintura de barcos e intervenções urbanas que realizei.

Estas pinturas começaram em 2012, com estudos e experiências cromáticas partindo de tons de uma única cor. Esses tons eram organizados em desenhos de plantas tropicais e de mangue. A pintura foi construida por relação de cor entre as folhas e caules, A estrutura do desenho definia-se pelo encontro de tons. camadas de outros materias foram acrecentados com o tempo… camadas e camadas de mangue. camadas e camadas de fulige. camadas de carne, resina e órgãos destrinchados. o lodo prata do mangue de santos. a cor da neblina, o verniz da madrugada. a serra do mar. o canto. o cais e as portas das carrocerias dos caminhões. o baú. a fumaça preta. o colapso.

As plantas do mangue e da mata atlântica, das ruas da baixada santista, do norte do brasil (gravatás, risophoras, antúrios cara de cavalo)

O sentido da pintura é outro; atravessou a presença do mundo. A cor me é outra existência. O valor dela é a carroceria desse caminhão que trafega na minha frente, é a parede do baheiro, a porta do comércio, a ilha que aparece atrás do mangue, o meio do mar e o centro da cidade, a planta que me acolhe, a planta do canal. Não consigo mais andar sem sobressalto! Tudo o que se me apresenta tem a densidade da cor, e mesmo assim tão sem propósito ou sentido.

Quero dizer que pintar casa, barco, madeira, caixote, mar, ficaram entre isso, fizeram com que o caráter da pintura se alterasse.

O meu empenho é tentar entender o que mudou, o que não faz mais sentido. Não descartar toda a tinta que me formou (ela está toda aí), mas respeitar a decisão do caminho, encontrar conjuntamente a cor. Aceitar o medo e a coragem de fazer o que mais se aproxima da satisfação de pensar o que se vive; de ser na obra.

Entre natureza e conteiner, essa argila do mundo.