Maurício Adinolfi CARONTE 7 voltas – 2021/22


CARONTE 7 voltas – 2021/22

Beco do Pinto/Museu da Cidade-São Paulo - Proac nº51/20

Barco de madeira, talha manual, motor bomba d'água, 120m de encanamento, água desviada de nascente contínua, asfalto, estrutura de madeira e ferragens.

Caronte carrega a alma úmida
dormente suspenso nas vísceras contorcidas do boi
Um barco morto
Um rio morto
a morte que não existe
cachorro de 3 cabeças
rio de 7 voltas
cão em liberdade

M. Adinolfi

CARONTE 7 Voltas, intervenção de Mauricio Adinolfi no Beco do Pinto, traz à tona um mundo esquecido da cidade de São Paulo: seus rios. Ao bombear a água de uma nascente que corre sob o Solar da Marquesa de Santos, para escorrer continuamente sobre um barco, faz com que as águas do Tamanduateí subam a colina histórica. Nesse movimento, retoma a narrativa das águas para confrontar a ação humana sobre o espaço. Não por acaso essa narrativa remete à figura do Caronte, barqueiro da mitologia grega que, pelas águas dos rios Estige e Aquedonte, transportava as almas dos recém-mortos em direção ao inferno de Hades. Na temporalidade geológica em que vive a malha hídrica da metrópole, esses recém-mortos têm pouco mais de um século. Eles nos lembram que estamos na última curva das sete voltas do Tamanduateí. Rio de Muitas Voltas, aliás, é uma das traduções do nome do rio na língua dos povos originários. Povos esses cujas histórias também sussurram entre os sucessivos massacres da nossa paisagem urbana, promovidos em nome de uma determinada concepção de progresso. Sem nostalgia de um passado mítico, o CARONTE 7 Voltas escorre beco abaixo, procurando outros caminhos para pensar a ressignificação do espaço e outros possíveis futuros da cidade.

Giselle Beiguelman


Equipe:
Artista: Maurício Adinolfi
Texto de Giselle Beiguelman
Construcão: Vimaden Projetos - Eduardo Fúria
Montagem: Marivando Nunes Pereira e Laurindo Cirqueira
Técnico de bomba d'água: William Ferreira da Silva
Design gráfico: Márcio J. Freitas